sábado, 20 de dezembro de 2008

Binário / 01000010011010010110111001100001011100100110100101101111

Era uma vez o 1.
Solitário, vagava de um lugar para o outro sem preocupações. Era uma vida simples. Caminhava por papiros e pergaminhos, conhecia pessoas importantes, filósofos, matemáticos, cientistas e teólogos.
Em busca de algum sentido, e cansado de ser só, perguntou a cada um desses o que ele era, e cada um dizia que ele era algo diferente.
O filósofo divagou e propôs: “És o Primórdio”. Representa a quintessência da vida, que era a fundação. A pessoa única. A alma.
O matemático rabiscou uns cálculos e afirmou: “É a Unidade!”. É a base de todas as contas, geratriz dos cálculos, a medida básica de tudo.
O cientista especulou teorias, juntou-as todas e formulou: “Átomo!”. A partícula menor parte de toda a matéria.
O teólogo orou, leu escrituras, e divagou: “És o Único”. O que deve ser adorado e temido, a força maior que rege nossas vidas.
O 1 não se satisfez com nenhuma dessas respostas, todas o colocavam como algo maior do que ele achava que era, algo fadado à solidão. Vagou mais um pouco, sem direção, se escondendo dos novos conceitos que os estudiosos lançavam aos ventos como descobertas revolucionárias, procurou e procurou, e chegou ao nada, e lá parou. Deitou-se na areia do tempo e decidiu não ser mais. Lamuriou-se: Ó vida amarga que me amaldiçoa com a solidão, que desgraça ser único, que labuta ser só.
Então, vinda de lugar algum, uma voz interrompeu-o:
- Grandes coisas, chorar por existir, pelo menos és alguma coisa, e eu que sou nada?
O 1 põe-se de pé com celeridade, olha de um lado para o outro, nada vê e grita.
- Quem é você?
Ao que a voz responde:
- Nada
- Perguntei quem é você, misterioso, e não o que é você!
- já disse, sou Nada!
- Como podes ser nada? Aparece!
- Estou aqui há eras, fino amigo, de frente pra ti. Talvez sua mente numérica me reconheça de uma outra forma.
E do vazio começa a se formar algo elíptico, um contorno. Formou-se o 0.
Ao ver aquilo, o 1 sorriu. Gargalhou - Não estou mais só! – e correu em direção ao 0. Pulou para abraçá-lo, mas o 1 não tinha braços, e o 0 não tinha corpo, então o 1 atravessou o 0 espatifou-se no chão. Eu avisei – disse o 0 – Sou nada.
- Sou nada, nada eu era, e nada serei. Nada, nada, nad...
- Bobagem! – Interrompeu o 1 – És nada apenas por que quer! Todos me dizem que sou e devo ser único, solitário, mas cá estamos, unidade e vazio, provando que Nada e Unidade podem coexistir!
O 1 se aproxima do 0, dessa vez com mais calma, pondo-se lado a lado, ao lado direito do 0. Ficaram 01.
- Vê? – Murmura o 0 – Continuo sem nada valer...
- Calma – retruca o 1 – vamos tentar de outro jeito, venha pra onde eu estou.
O 1 caminha pra esquerda do 0, tornando-se 10.
- Isso... isso... isso é diferente – Balbucia o 0.
- Sim, sim, eu não me sinto mais sozinho.
- E eu não me sinto mais vazio.
A alegria toma conta dos dois e eles tentam novamente se abraçar, novamente sem sucesso. Rolam pelo chão, deixando um rastro diferente pela areia do fim do tempo:

101000101110101100101010000001110110010101011111010101101010101010111010101010...

O 1 olha para o chão, e otimista, vê as possibilidades.
0! – grita o 1 – olhe pra isto! Nós formamos família!
O 0 olha incrédulo, mas de descrença seu olhar passa pra esperança quando do 1001 sai o 9, do 1000 surge o 8, 0111 vira o 7, do 0110 nasce 6, 0101 torna-se 5, 0100 é o 4, 0011 o 3, e 0010 o 2.
Todos aqueles números, todas aquelas possibilidades e probabilidades, nascidos do encontro do 1 com o 0. E que lindos eram, cada um com sua personalidade própria.
6 e 9 sempre brigando, um acusando o outro de cópia mal feita.
2 com seus problemas de dupla personalidade.
O 3 se intrometendo nas relações dos outros.
4 tentando controlar sua esquizofrenia, pois era duas vezes o 2.
5, orgulhoso de ser a metade da união de seus pais.
7 tristonho e recluso por ser incompreendido.
E o 8, que não quer ser 8, vive deitado tentando ser infinito.

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2 Comentários:

Blogger Unknown disse...

adoro coisas com números!!
Gostei de verdade
Beijos!!

10 de janeiro de 2009 às 01:37  
Blogger Unknown disse...

rapa legal q historia!
0 e 1 viveram felizes para sempre! rsrsr

23 de março de 2010 às 23:56  

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